quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Areias sobre palcos alheios


















Cortinas escuras, em palcos cheios de vazio
Teatro de peças, representando algumas dores
Repintadas em personagens de vermelho
Refletindo como espelhos a alma de atores

Espetáculo de falas casuais ao público
Que ouve atento, os ventos falarem sobre nós
Deixando ser parte da arte propriamente dita
Ergue-se a cortina, e já não estamos mais a sós

E vivemos outra vez, um conto recontado
Um retalho solto de versos desenhado
Em areias sobre palcos alheios

Somos outra vez, protagonistas
Representando um roteiro de palavras não ditas
Sussurrando desejos, memórias e devaneios

Poesia sobre poetas mau amados















Desatento aos desencontros, o poeta cria
Em perfeita harmonia com sua dança de palavras
Enxuga lágrimas de um sonho ainda recente
Crescendo dentro da gente paixões desencontradas

Poesias de além mar, de céus invisíveis
Canções displicentes  de histórias marcantes
Faz-se a vontade própria de ser
Ecoada num grito de liberdade berrante

Poeta esse, de sofrimentos e descontentamento
De choros, melodias frágeis e palavras irrisórias
Mas de sorrisos alheios, em simples devaneios
Do que já faz parte dum pedaço de memória

Diz-se que poetas vivem de ilusões, amores irreais
E das noites em claro, dos choros ecoados, tiram poesia
Na verdade, ser poeta, é estar com a porta sempre aberta
Para um novo amor que chegue sem aviso a qualquer dia.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

A bailarina que dançava sobre a vida



















Dançava pois, sobre gotas de chuva recém caída
A bailarina dos sorrisos e sonhos quase inventados
O recomeço forçado dos passos ainda perdidos
Coabitando sentimentos, buscando outros sentidos

Numa dança de desejos, sorrisos e gestos
Tornava a poesia da palavra em verbo incandescente
Em harmonia consigo mesma, dançava.
Com a mesma calma, de que não apenas ama, mas sente

E sentindo-se livre, dançou sem pressa
Como poesia lenta na memória do poeta
Criou melodias, passos e amores na poesia
Despertando em si, sua própria ousadia

E ao partir, deixou linhas em branco
Na melodia, da poesia do canto seu
Foi-se embora a bailarina
Viver a vida que sempre lhe pertenceu

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Avante ao contratempo



















Deveria saber eu, sobre os céus pintados de vermelho
Em dias de poesia quieta, incontida num poeta e seu devaneio
Deveria saber eu, as horas passadas, ou folhas caídas
Em outonos de chuva pálida, ou em noites esquecidas

Mas era só silêncio, e felicidade de momento
Euforia durante o dia, e a noite sofrimento
E de contratempo em contratempo foi desfeito
O laço de memórias presas em suaves desafetos

Os pés balançando sobre o mar, no alto da vida
A canção falava sobre coisas há muito esquecida
E o vento agora era tão vago quanto os céus vermelhos
Minha alma era, não só por momento um breve espelho

E esnobes reflexos eram quem eu não queria ser
Desatento ao pensamento,  foi se indo meu viver
Sem que eu pudesse esquecer de coisas abstratas
Memórias, pessoas, e vidas ingratas

E no final da noite, abriu-se as portas das palavras
E foram ditas as línguas caladas
Que a poesia precisava de novo acontecer
E assim, se fizeram os versos antes do amanhecer

E as dores guardei-as em caixas no sótão
Onde não fizessem mal ao coração
E num sorriso único de quem é feliz
Saí pra vida que há muito tempo eu  sempre quis